segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Tradição de terno de reis é resgatada em Araquari

Grupo atua há 15 anos no município

“É uma emoção muito grande quando as pessoas acendem a luz. Esse é o sinal que logo vão nos receber, aí a alegria invade a gente”. São essas as palavras de dona Jucélia Maria Moreira que há 15 anos está ao lado dos amigos Valério dos Passos e João Genoário Fernandes resgatando uma tradição de natal que no município já estava ficando esquecida: o Terno de Reis.
A tradição foi trazida para o Brasil pelos colonizadores luso-açorianos em 1534 e é mantida principalmente no litoral do país e no meio rural. Em Araquari, a ideia de criar um grupo para manter a tradição que já havia se perdido partiu de Valério, quando atuava como professor de violão na Casa da Cultura do município.
“Inicialmente a ideia foi montar um grupo para cantar músicas no estilo de Terno de Reis e nós conseguimos, mas começou com senhoras. O grupo ficou conhecido no município e recebeu o nome de Mocinhas da Cidade”, conta. Segundo Valério, o objetivo era resgatar e preservar todos os tipos de manifestações culturais pelas quais a Araquari já havia passado e a música foi o primeiro passo para ele.
“Depois eu comecei a tocar na igreja e, junto com o pessoal que já tocava por lá resolvi adaptar a ideia e formar um grupo de Terno de Reis que foi aceito pela Jucélia e pelo João e hoje tocamos em Araquari, Joinville e temos agenda em Piçarras também”, diz.
O trio sempre começa os ensaios no início de dezembro e segue com as apresentações até o dia 6 de janeiro, de acordo com a tradição católica, de onde o Terno de Reis surgiu como uma homenagem aos três reis magos que vão atrás de uma estrela que aparece no céu, no dia do nascimento de Jesus, 25 de dezembro.
Gaspar, Melchior e Baltazar saem à procura do menino Jesus, levando presentes como ouro, mirra e incenso e, chegam a Belém no dia 6 de janeiro, Dia de Reis e data que o grupo encerra suas atividades.
Dona Jucélia é responsável pelo tambor e pandeiro, Valério toca cavaquinho e seu João comanda o violão, enquanto os três cantam as músicas que falam da história de Jesus ou relembram o natal como uma época de celebrar a vida.  De porta em porta, eles saem por Araquari e sempre são muito bem recebidos.
 “O pessoal já espera essa data, espera que a gente vá e, alguns se emocionam e chegam até a chorar”, conta dona Jucélia sem perder o sorriso e o orgulho de fazer parte do grupo que além de resgatar a tradição, alegra os lares do município.
Para ela, já é herança de família. Cresceu ouvindo e vendo grupos de Terno de Reis. “Meu avô já participava de grupos, meus amigos também. Acho que já corre no sangue essa vontade”, diz Jucélia.
O cronograma é simples: a apresentação se divide em três partes. Na chegada, o trio cumprimenta os donos da casa e pedem licença para entrar. Como sempre saem de madrugada, esperam o sinal que é a luz ser ligada:  “essa é a resposta que precisamos para saber que o dono está se levantando e vai nos atender”, explica Valério.
 No segundo ato, louvam o menino Jesus já dentro da sala ou outro cômodo que o dono oferecer. Se houver presépio no local, a apresentação é feita em frente dele. A cantoria é interrompida quando o dono da casa, seguindo o exemplo dos reis magos, presenteia o grupo com bebidas e comidas, ou mesmo dinheiro que é colocado dentro do violão.
E o último ato é a despedida. Assim, o trio parte para a próxima casa. De acordo com a cultura popular quem recebe o Terno de Reis é abençoado.



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