segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Pedofilia: Os fantasmas da internet

Doces, balões, bonecas, carrinhos, rosto sujo de chocolate e sorvete, histórias de princesas encantadas que vivem em palácios de diamantes, histórias de super-heróis que enfrentam dragões e gigantes em terras desconhecidas, contos de fadas. Todas essas coisas fazem parte do mundo infantil e estão guardadas em memórias de crianças. Fotos de meninos e meninas nus em posições eróticas ou fazendo sexo com adultos e outras crianças, conversas maliciosas de adultos com crianças, prostituição infantil. Isso é crime. Um crime que muitas vezes fica sem punição quando se encontra no cenário da Internet. 

“Anjinho” ainda deixa escapar um sorriso meio envergonhado no canto do rosto. Um sorriso de dentes ralos e intercalados por uma “janelinha” no local do dente incisivo direito. Ela nunca imaginou que um dente poderia envolvê-la em um crime. Seus olhos denunciam o medo que vive dentro da criança. Grandes olhos esmeralda, olhos que não conseguem manter um ponto fixo, movem-se com freqüência, inquietos, amedrontados ou apenas inseguros. A menina de cabelos cor de fogo, que mais parecem com um manto estendido sobre sua cabeça, esfrega as duas mãozinhas como se procurasse aquecê-las ou confortá-las. 

“Anjinho” tinha nove anos quando perdeu seu dente canino esquerdo. E tinha nove anos quando foi assediada pela “Fada do Dente”. Espremida entre o sofá e a mãe, que coloca as mãos sobre os ombros da menina, ela bate com as pantufas verdes no chão e antes que comece a contar como conheceu a “Fada do Dente” a mãe a interrompe: - Demos um computador para ela porque as amigas tinham um e ela pediu de presente de natal. É uma boa aluna, sempre foi, então, decidimos, o pai e eu, dar de presente. Aí, a prima de quinze anos mostrou um site para conversar com as amigas – cheio de bonequinhos e tal, achamos que não tinha problema. 

A mãe da menina contou o que deu início a meses de insônia e preocupação com o dia seguinte em que a menina deveria ir para a escola. “Anjinho” calou-se e abaixou a cabeça, parecia envergonhada ou talvez se sentisse culpada. “Soraia” Montebeller ainda deixa transparecer a angústia que passou há dois anos, quando a “Fada do Dente” se tornou amiga de finais de semana de “Anjinho”. - Ela começou a entrar todos os sábados nesse site. Criava um bonequinho e conversava com três amigas da escola. Depois de três semanas, veio nos contar que conheceu a Fada do Dente na internet. O pai e eu rimos, achamos que era coisa de criança. 

O rosto pálido de Soraia começa a ficar corado. - Depois de um tempo “Anjinho” perdeu um dente e, no sábado à noite, veio nos contar que a fada do dente tinha pedido que ela levasse o dente para a escola que a fada iria buscar e trocar por moedas. Ainda assim não demos bola porque não associamos a fada com a Internet, para nós ela estava brincando. 

O rosto de Soraia mostrava o quanto estava tensa em lembrar da história: avermelhou-se por completo. E suas mãos compridas começaram a tremer, uma estendida sobre o ombro da menina e a outra batendo constantemente na perna esquerda. - Só descobrimos que “Anjinho” estava realmente conversando com alguém perigoso quando entrei no quarto dela para chamá-la para jantar e ela tinha ido ao banheiro. Comecei a mexer no computador e li as conversas. Ela já tinha passado o endereço e o nome da escola para a pessoa do outro lado. A menina suspira no sofá e solta uma frase curta: - Eu não sabia. Soraia passa a mão que estava sobre o ombro da menina nos cabelos de “Anjinho”. – Eu não sabia o que fazer, nas conversas a fada perguntava muitas coisas pessoais e ela respondia. O que me apavorou foi a pergunta... 

Soraia interrompeu a conversa e pediu que a filha fosse para o quarto brincar. A menina apenas respondeu com um gesto de cabeça e saiu com suas pantufas verdes. A mãe explicou que não gosta de tocar nesse assunto, principalmente perto de “Anjinho”, porque desde que a menina teve contato pela Internet com a “Fada do Dente” e tomou consciência do quão perigoso era conversar com estranhos por computador, ela mudou. - Ela era uma criança ativa, sempre sorridente. Agora é calada e quase nunca sorri de verdade, só por simpatia, sabe? 

Neste momento compreendi o sorriso envergonhado no canto dos lábios de “Anjinho” quando me viu chegar. A mãe segurou as mãos como se estivesse cumprimentando a si mesma e continuou a contar: - A pessoa do outro lado perguntou qual era a cor de calcinha que ela estava usando e se ainda era virgem. Isso fez com que o pai dela e eu vendêssemos o computador e também mudamos ela de escola porque não conseguia dormir sabendo que alguém que nem sei se é homem ou mulher sabia onde minha filha estava, entende? 

Após uma conversa de 27 minutos com a mãe, “Anjinho” voltou segurando em uma das mãos uma boneca de pano com cabelos de lã amarela e vestidinho lilás. As pantufas cor de abacate ainda estavam em seus pés. 

Os pais de “Anjinho” não fizeram a denúncia porque não queriam envolver a filha em confusão, mas resolveram procurar auxilio psicológico. “Anjinho” tem consultas mensais para voltar a ser a criança ativa que era antes de ser assediada pela “Fada do Dente”. Soraia e o marido tentam superar o medo de deixar a menina ir para a escola com as amigas. O novo colégio de “Anjinho” fica a duas quadras de sua casa. Mesmo assim, Soraia deixa a filha na porta da escola todos os dias e o pai passa para pegá-la. 

“Anjinho” era o nome que a menina de classe média usava para entrar na sala de bate-papo do site Humortadela. Atualmente as salas de bate-papo do Humortadela oferecem duas opções de interação: “o vídeoxet”, onde é possível que o internauta envie vídeos e fotos instantaneamente, e o “chá-tadela”, a sala atualizada com os bonequinhos. O site possui conteúdo direcionado a adultos, porém, nenhuma restrição de acesso aos conteúdos para menores a não ser pelo aviso: “Este conteúdo é impróprio para menores de dezoito anos”. Informação que contém em todos os sites com conteúdos pornográficos ou de acesso restrito. 

“Anjinho” teve o que podemos chamar de sorte. Apesar de precisar de consultas psicológicas e ter que mudar de escola, a menina permaneceu com sua inocência. Mas, não é assim que sempre termina a história de crianças assediadas pela Internet. A presidente do site “Censura”, Roseane Miranda, explica que há Clubes de Pedofilia espalhados pelo mundo. Esses clubes associam os pedófilos e facilitam a troca de vídeos, fotos ou qualquer outra forma de conteúdo pornográfico infantil. Os Clubes dos Pedófilos também servem para contratar serviços de exploradores sexuais, fazer turismo sexual ou mesmo efetivar o tráfico de menores e aliciá-los para práticas de abusos sexuais. Roseane afirma que esses clubes são responsáveis pelo desaparecimento de crianças do mundo inteiro. 

No mundo e no Brasil 

Uma pesquisa realizada pela UNICEF (Fundo das Nações Unidas para a Infância) apresenta dados assustadores: mais de mil sites mensais são relacionados ao crime de pedofilia e 76% dos pedófilos do mundo estão no Brasil. O advogado da vara da Infância e da Juventude João Ferreira costuma chamar os pedófilos de “Fantasmas da Internet”, pois cometem seus crimes e têm ao lado deles a vantagem do anonimato. O advogado Ferreira afirma que muitos pais e familiares de crianças assediadas virtualmente não fazem denúncias. Acreditam que é impossível identificar quem está do outro lado flertando com seus filhos e preferem não denunciar para não expor as crianças. 

O delegado diz que as denúncias podem ser anônimas, mas que é necessário fazê-las, pois facilita o trabalho de caça aos pedófilos realizado pela Policia Federal. João Ferreira fornece algumas dicas aos pais e recomenda, em primeiro lugar, que controlem os sites que os filhos visitam. A localização do computador também é importante: deve ficar num lugar de passagem da casa, o que facilita o controle. Em outros locais públicos de acesso à internet, como as lan-houses, é necessário que existam regras para o bom uso da internet. Os pais devem estar atualizados sobre as novas ferramentas de tecnologia que auxiliam no controle de acesso à rede. “Existem vários sistemas que mantêm o controle do que aparece no computador enquanto estão acessando a web”, diz o advogado. 

Para João Ferreira, não é nada difícil para os pais manter o controle, já que constantemente perguntam aos filhos onde andam, quais os locais que frenquentam, que horas chegaram em casa. “Esses mesmos cuidados devem ser tomados na vida digital, pois manterão as crianças em segurança, são básicos e muito eficientes”, comenta. “A preocupação de manter-se vigilante quando a criança senta diante de um computador deve ser constante. Se você não vigiar seu filho, alguém pode vigiá-lo por meio da tecnologia que te faz indiferente”. 

No Brasil a punição para o crime de pedofilia aumentou de seis para oito anos de prisão em 2005. É o que garante o artigo 227 da Constituição Federal e o artigo 241 do Estatuto da Criança e do Adolescente. A lei criminaliza a aquisição, posse e divulgação para a venda de material pornográfico. O país ocupa o quarto lugar no consumo de material de pedofilia no mundo, segundo a Policia Federal. Há vários órgãos espalhados pelo mundo em combate ao crime de pedofilia pela internet. A ONG Safernet Brasil, a Interpol, a Unicef, a Unesco, o site Censura, a Policia Federal, o Conselho Tutelar e o Ministério Público Federal são os que mantêm atividades constantes de pesquisa e investigação. 

Para que se possa investigar denúncias desse tipo, os provedores de serviços de Internet precisam desabilitar e remover o acesso ao conteúdo e, ao mesmo tempo, preservá-lo para que seja possível identificar o autor do crime. O advogado João Ferreira diz que para a captura desses criminosos é necessária a parceria com as operadoras de serviços virtuais, ou a lei será apenas “um monte de letras mortas”. 

Investigação participativa 

Após pesquisas e entrevistas, resolvi investigar de forma participativa como funciona realmente esse universo virtual e encontrei alguns “fantasmas da internet” no decorrer da investigação. Meus criminosos tinham entre 26 e 48 anos e sabiam muito bem o que estavam fazendo. Entrei no reino cor-de-rosa e durante algumas noites de sábado silenciosas, comecei a caçada. Não encontrei fadas luzindo, nem papoulas, nem coroas de pedras preciosas. Não encontrei nesse universo nem inocência, nem sonhos lindos de crianças, e se por ali passou a diversão, devo ter me distraído, pois nem mesmo o cheiro dela consegui eu, “uma menina de 11 anos virtuais”, perceber. 

Enquanto buscava as minhas “presas” lembrava de brinquedos e em minha memória voltavam cenas de minha infância, longe, com certeza, do universo virtual. Meu mundo de criança se produzia da seguinte forma: tudo que era objeto ganhava vida. Cavalos, bonecas e os soldadinhos de plástico de meu irmão, ursos de pelúcia e aquela boneca que me amedrontava. Meu medo se resumia a uma boneca de 25 centímetros que em meu universo ganhava vida. Uma boneca que minha mãe escondia todas as noites para que eu pudesse dormir. Dei-me conta ao fim da pesquisa que, eu sim, vivi em um mundo cor-de-rosa. E esse mundo em que milhares de crianças são assombradas pelos “Fantasmas da Internet” sem sequer perceber, esse é um mundo ausente de luz, uma completa escuridão. 

As salas de bate-papo foram meus primeiros alvos. Participei de conversas em sites como “Humortadela” e “Terra”, em “Chats” de 15 a 20 anos, a idade “mínima” permitida. Ao entrar, já tive uma surpresa. Os nomes ou “nicks” escolhidos pelos participantes não correspondiam às suas respectivas idades, ou as idades estipuladas pelas regras do site. Nomes como: !MSN: gata2cam@hot, 2 gatas, AdoroPeituda\SPmsn, garota moranguinho, gostoso afim, GRISALHO NA CAM, H gostoso, h k fude agora, Loirinho Seductor, Pau Duro Na CAM, SeXy BoÔy, TaradinhoPseios, Taradão q Safadinha, me deram uma pista do que eu poderia encontrar pela frente. E eu não estava errada. 

Com o nome “docinho 11”, número que sugeria minha idade, consegui conversar com sete participantes em apenas 15 minutos na sala. Devo dizer que as primeiras perguntas feitas por eles era se eu tinha msn (menssenger) e qual a minha idade. Após obterem as respostas o nível das perguntas caiu para questionamentos constrangedores relacionados a sexo. 

Mantive uma conversa prolongada com “Grisalho na Cam”. Quando perguntei a idade dele, primeiramente me disse: “Tenho 26 anos”. Após um tempo de conversa e sabendo que “docinho” tinha onze anos, “Grisalho” perguntou: “Qual a cor da sua calcinha?”. A pergunta me irritou profundamente e o asco pela pessoa que não conhecia tomou conta de “docinho”. Ao invés da resposta fiz a “Grisalho” a mesma pergunta de minutos antes: Quantos anos você tem? E sem perceber o homem me respondeu: “36 anos”. “Grisalho na Cam” acabara de ficar dez anos mais velho e talvez tenha percebido isso: GRISALHO reservadamente fala com docinho11: desculpe, acho que antes digitei errado tenho 36 anos. GRISALHO reservadamente fala com docinho11: Você tem msn? Docinho11 fala com Grisalho: nao meu computador tá meio doido não abre msn GRISALHO reservadamente fala com docinho11: pena, mas me diz, como vc é? Docinho 11 fala com Grisalho: o que quer saber? GRISALHO reservadamente fala com docinho11: a cor de seus cabelos e olhos Docinho 11 fala com Grisalho: cabelos loiros, olhos verdes. GRISALHO reservadamente fala com docinho11: vc parece ser mto bonita... Quero muito acariciar seus cabelos de ouro. Onde vc mora? Docinho 11 fala com Grisalho: em Curitiba e vc? GRISALHO reservadamente fala com docinho11: Moro em Blumenau. Queria te conhece pessoalmente vc tem orkut? Docinho 11 fala com Grisalho: não, meus pais quaze nao deixam eu entrar na net to na casa da minha prima... 

Assim seguiu a conversa, entre frases mal formuladas e erros gráficos de docinho que fingia ser uma menina de 11 anos. “Grisalho” fez muitas perguntas pessoais como endereço da garota e escola em que docinho estudava, o que ela gostava de fazer nos finais de semana e se tinha namorado, se tinha orkut. Pediu a ela que fizesse um msn porque ele queria muito conhecê-la. E conversar com ela por vídeo. “Grisalho” disse que pagaria a “Docinho” uma passagem para que ela pudesse ir a Blumenau encontrá-lo pessoalmente. As perguntas pessoais se tornaram pornográficas. “Docinho” pesquisava e conseguira o que esperava conseguir, anotou o msn de “Grisalho” prometendo ao mesmo que assim que tivesse um msn o adicionaria. Não o adicionou. 

Docinho entra em outra sala. O participante com o nome “Ronnie Machado” entra na sala e começa a conversa: RONNIE MACHADO reservadamente fala com docinho: VC TEM QUANTOS ANOS? E TEM MSN? TA AFIM DE ME VER LÁ, ME ADD... “Docinho”, que criara um msn falso, adiciona “Ronnie” entre seus amigos. O homem tem 48 anos e sabe que “Docinho” é uma menina. “Ronnie” mora em Minas Gerais, segundo as informações que passa para “Docinho”, é solteiro e “adora crianças”. Em todos os momentos da conversa usa a palavra “anjo” para chamá-la. “Docinho” mantém conversas com “Ronnie” por duas semanas. As perguntas dele começam a se tornar maliciosas. Ele insiste que “Docinho” passe seu endereço e pergunta se pode visitá-la. Pergunta se ela mora com os pais, se eles trabalham e o horário. “Ronnie” cria uma estratégia para que ela responda as perguntas sem perceber o perigo que está correndo. Elogios referentes à pessoa física que ela passou por escrito, incentivos aos objetivos da menina e a palavra “anjo” que pode levar “Docinho” a pensar que o homem é bondoso e gentil. Com todas as perguntas, “Ronnie” cria um perfil de “Docinho”. A menina fala com um criminoso, assim como várias crianças falam com criminosos pela Internet e não sabem. “Ronnie” faz um convite para que Docinho o aceite na web cam. A menina o aceita.

Pela câmera ela confirma o perfil que criara de “Ronnie”. Um homem com alguns fios de cabelo grisalho, boa aparência e sobrancelhas grossas e negras. O pescoço de Ronnie era largo e ele aparentava ter uma estatura mediana. Usava uma camiseta verde e movimentava-se constantemente na cadeira. Ao fundo dele havia uma parede bege e podia-se notar o pé da cama. Parecia ser um homem de classe média alta. “Ronnie” e “Docinho” conversaram por dois finais de semana. Ele havia confessado seu nome, Maurício, e pediu a ela que fizesse o mesmo. A menina liberou: Melissa, nome criado por ela para dar continuidade à pesquisa. 

O último dia em que “Docinho” e “Ronnie” conversaram foi o dia em que ela encerrou a investigação. O dia em que ficou em silêncio por cinco minutos depois que ele perguntou se era virgem. A resposta de “Docinho” fez com que as sobrancelhas negras de “Ronnie” franzissem e seus olhos arregalassem amedrontados. Docinho11: Não tenho 11 anos, tampouco sou criança. Você acaba de fazer parte de uma investigação de pedofilia para uma matéria jornalística. “Ronnie” fica nervoso e começa a piscar o olho esquerdo. Ronnie: Você ta brincando? Docinho: Não. Estou falando muito sério. Você e outras pessoas fazem parte de uma pesquisa de pedofilia e devo lembrá-lo que o que faz na Internet é crime, sendo a punição de seis a oito anos de prisão, mais multa. Ronnie: se fizer alguma coisa, se isso sair no jornal eu te pego, vou te achar. Docinho: Não, não vai porque você não tem nenhuma informação verdadeira sobre mim. 

“Docinho” não consegue dizer mais nada. O msn de “Ronnie” é desconectado e ela é bloqueada. Outras salas de bate-papo da mesma categoria de idade confirmaram que os pedófilos são de ambos os sexos. Mulheres também praticam pedofilia, seduzindo crianças, contando como estão vestidas e suas medidas de busto e nádegas, entre outras afirmações e questionamentos que fazem aos envolvidos. Em contatos que “Docinho” teve com outras crianças pelas salas de bate-papo, confirmou que criar um perfil delas e obter informações pessoais que possam deixá-las em perigo é extremamente fácil para qualquer um. Mesmo os nomes e sobrenomes dos pais as crianças chegam a revelar para as pessoas com quem conversam. 

Os pedófilos 

A psicóloga Giana Mendes traça um perfil dos criminosos. Ela descreve algumas características da patologia como a necessidade de observar, organizar materiais pornográficos, divulgar e participar de atos sexuais contra crianças. No Brasil, os maiores produtores de imagens de crianças violentadas são jovens de 17 a 24 anos - a maioria deles vítima da própria família na infância. Por sua vez, os compradores da produção têm um perfil diferente. A psicóloga descreve que normalmente são solteiros, têm pouco mais de 40 anos e costumam ser profissionais liberais. “Em torno de 95% dos pedófilos sofreram abuso sexual na infância”, estima Giana. 

As investigações da Unicef apontam que existem mais de 6,2 mil sites comerciais de pedófilos em todo o mundo e que a compra do material pornográfico infantil pode ser feita com uso de cartão de crédito. Estima-se que 7 milhões de crianças em todo o mundo são vítimas desse processo. Os criminosos se escondem atrás de grupos nomeados, “adoro meninos de cueca”, “mulek ou garoto”, “quero adotá”. No comércio da pedofilia, uma foto de criança aliciada chega a valer 200 reais e um vídeo de cinco minutos em torno de 2 mil reais. Um levantamento revelou que uma em cada cinco crianças que navegam na internet recebeu proposta sexual pela web e uma em cada 33 recebeu telefonemas, dinheiro ou passagem para encontrar o pedófilo. 

Os sites de conteúdos pornográficos são os que têm maior público na web, e neles estão incluídos os sites onde se cometem crimes sexuais contra crianças. A web facilita a prática de pedofilia por ser um espaço onde pessoas de diversas nacionalidades trocam informações sem que haja legislação específica em vigor, pois prevalecem as leis específicas de cada nação para este crime. Os sites de relacionamentos e outros meios criados para este fim são os de mais fácil acesso aos pedófilos. No orkut, nas salas de bate-papo e no próprio msn a difusão de pornografia infantil se prolifera. 

A Unicef orienta os internautas a denunciar qualquer ato suspeito na web. Se o internauta encontra alguma página na internet com imagens de crianças ou adolescentes submetidos a situações constrangedoras, poses sensuais ou atos sexuais deve efetuar a denúncia que pode ser feita pelo site da Unicef ou mesmo ao Conselho Tutelar da cidade, que por sua vez, deve levar a informação ao conhecimento do Ministério Público. Onde não há Conselhos Tutelares as Varas da Infância e da Adolescência podem receber as denúncias. Outros órgãos que também são preparados para ajudar são as Delegacias de Proteção à Criança e ao Adolescente e as Delegacias da Mulher. Outra opção é o disque denúncia 100: o serviço do Disque Denúncia Nacional de Abuso e Exploração Sexual contra Crianças e Adolescentes. 

Se as crianças perdem sua inocência, deixam de ser crianças e se não há infância, não há futuro para ninguém. A fada das crianças as conduz em direção a luz, mas ela é apenas uma e os “Fantasmas da Internet” são milhares. (Docinho 11). 

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