sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Participativa



Após ouvir a história de Maria comecei a observar os rostos, os gestos e expressões de cada pessoa que embarcava e descia do transporte coletivo. Comecei pela linha Profipo, partindo do bairro Santa Catarina. Enquanto aguardava o ônibus no ponto, percebi que as pessoas chegavam lentamente e buscavam um lugar à sombra. Primeiro apareceu uma moça de aproximadamente 35 anos, baixa estatura, pescoço largo, cabelos crespos e amarrados feito um coque, saia jeans no comprimento abaixo dos joelhos, botas cano médio na cor marrom e um casaco preto. Ao lado, ela carregava uma bolsa pequena na mesma cor do casaco.
            A moça de pele morena tinha dentes ralos e olhos negros. Não era dona de beleza física admirável, mas aparentava ser simpática. Em seguida, se aproximou uma mulher de cabelos tingidos na cor loura, magra, alta, vestindo uma calça jeans e o que me pareceu um tanto peculiar era que calçava o mesmo modelo e cor de botas da moça morena. “Bom dia”, cumprimentou a moça morena e a mim.

            Logo, outras pessoas chegaram para cumprir suas rotinas. Uma adolescente de 16 anos que estava indo para a escola, um rapaz de cabelos arrepiados e com o rosto coberto de espinhas e sardas que partia para o trabalho e três crianças que tinham por objetivo chegar à escola. Essas três crianças me chamaram a atenção. Eram três irmãos. Dois meninos gêmeos de 7 anos, morenos, cabelos bem curtinhos, que me lembraram cabelos de soldadinhos. E uma menina loira, de olhos azuis e cabelos cortados na altura do pescoço. A menina aparentava ter 9 anos.
Primeiro me chamaram a atenção pela “algazarra” que faziam pela estrada, a menina e um dos irmãos rindo e discutindo com o outro irmão. O ônibus chegou e todos embarcaram. Pela janela vi uma mulher correndo na direção do ônibus, ela usava um uniforme de creche. Quando perguntei por que a pressa, ela respondeu: “Sempre preciso correr porque não posso me atrasar para o trabalho, se perder esse ônibus a minha chefe me mata”. Após a brincadeira, deu um sorriso e passou a roleta.
            O ônibus já estava com os bancos quase todos ocupados com passageiros, mas, algumas das pessoas ainda conseguiram sentar. As crianças passaram a catraca, os dois irmãos pagaram apenas uma passagem e a garotinha a outra. O motorista não gostou: “Vocês sempre fazem isso, se passarem mais um dia assim, eu faço vocês descerem do ônibus”, disse o homem moreno de face larga e olhos puxados. Havia mais nove pontos de parada e o ônibus lotou em pouco tempo.

            Duas mulheres conversavam, não conseguia ver seus rostos, mas ouvia a conversa, que seguia dessa forma:
Mulher 1 : Pois então, e a minha filha que não quer mais saber de outra coisa, só do Michael Jackson.
Mulher 2 : Por que? Quantos anos ela tem?
Mulher 1: Tem 13 anos, mas só fala no Michael, Michael pra lá, Michael pra cá. A tela do computador dela tem a foto do Michael, o plano de fundo do celular também e o toque é uma música dele. Todos os dias ela roda aquele CD em casa e fica dançando.
Mulher 2 : Ah, está na fase da adolescência, é assim mesmo.

            O ônibus chegou ao terminal, desci dele e entrei no Sul. Quando cheguei à parada deste ônibus, em torno de 300 pessoas o esperavam, entre estudantes, trabalhadores e pessoas que precisam fazer qualquer outra coisa fora de seus bairros. Não consegui entrar no primeiro ônibus que encostou, mas entrei no próximo. O veículo parou, a porta abriu e o instinto selvagem do ser humano se aflorou. As pessoas se empurravam não se importando com quem poderia estar em sua frente, não levando em consideração nem idosos, nem crianças. Todos queriam apenas entrar, queriam um lugar para sentar, ou pelo menos um lugar para ir de pé.

Texto de 2009.
Manifesto contra o aumento da passagem em Joinville



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