Neste ambiente, nesta selva, tem
de tudo, desde criança de colo, recém-nascido à idosos apoiados por suas bengalas. Desde
homens, mulheres aos não tão homens ou tão mulheres. Desde eruditos aos que
pouco se importam com o intelecto, ou, aos que não tiveram oportunidade de se
importar.
Gente com uniforme escolar, com uniforme de empresas, gente sem uniforme,
com roupa da moda ou nem tão na moda, pessoas mais discretas e comportadas e os
não tão discretos e pouco comportados.
Quer melhor
lugar para conhecer pessoas diferentes?
Você vai encontrar pessoas de cabelos loiros, que muitas vezes nem tão
loiros assim são. Os ruivos, morenos e até os coloridos. Esses são os que mais
me fascinam: rosa, verde e tem até azul!
O ônibus pára e sobe a multidão, ou deveria dizer... Bando? O transporte
público vira uma selva, onde gorilas e lêmures lutam por um lugar no galho e
adivinhem? Nem sempre os gorilas ganham, porque os lêmures costumam andar em bandos. Empurra
daqui e empurra de lá. Logo se chega à vitória, não importa se você chegou
sozinho, se está acompanhado, se carrega mais alguém, ou se não carrega é nada,
o que importa é simplesmente a satisfação de poder sentar. Os maiores,
geralmente são os predadores e costumam esmagar os menores quando têm chance,
mas, nem sempre a tem, porque os pequenos são ligeiros.
Aqueles que não conseguem um lugar no “galho” são obrigados a ficar de
pé, se conseguirem um espaço. Os sentados nem sempre recebem todo o conforto
que esperam. As cargas carregadas pelos que estão em pé são armas mortais para os
que dentro das jaulas se encontram, elas têm o poder de machucar qualquer um,
ou simplesmente, de irritar.
A mulher robusta de cabelos negros e lisos no comprimento da cintura se
incomoda com os adolescentes agitados que apesar de apertados não param de se
cutucar, esfregando a mochila no rosto da moça. “Que falta de educação, tira
essa porcaria dessa mochila das costas garoto”, fala em tom alto e exigente. O
rapaz avermelha a face, mas aceita a exigência e coloca a mochila no chão.
De súbito, quando o ônibus estava para sair, uma mulher de 53 anos aproximadamente começa a gritar para o motorista abrir a porta que ela quer descer: “Pára, abre a porta que eu não vou andar nesse ônibus, todo mundo vai morrer, está muito cheio e está tudo enferrujado”. A mulher descontrolada esbarra nos passageiros, forçando-os a se moverem para conseguir descer. “Cala a boca velha, fecha a porta motorista que ela está aqui no fim e não vai conseguir passar, ela vai descer quando a gente descer”, grita uma outra mulher de aproximadamente 40 anos.
A discussão começa, as duas mulheres batem boca, os adolescentes riem e cochicham, as crianças olham assustadas e o motorista arranca o ônibus. A mulher se enfurece e quebra o vidro de uma das janelas. “Sua louca! Vai para o hospício. Está todo mundo atrasado para trabalhar e essa louca pirando no ônibus”. O motorista pára o ônibus, chama o fiscal, o fiscal analisa a janela pelo lado de fora, e diz aos passageiros que terão que descer e esperar outro ônibus porque não podem sair com o transporte danificado.
Os passageiros enfurecidos iniciam as reclamações e pedem para seguir no mesmo ônibus. Após quase dez minutos de conversas e ameaças, o fiscal aceita o pedido e libera o transporte. “Eu quero sair daqui”, grita a mulher que quebrou a janela. O motorista fecha a porta a pedido dos passageiros e toca o veículo. “Fica quieta se não quiser apanhar, mulher”, ameaça um senhor que estava fora de minhas vistas. A mulher emudece e o ônibus parte para o Centro da cidade.
Texto de 2009.
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Manifesto contra aumento da passagem em Joinville |
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