Apesar de tudo, você decide compartilhar o sofrimento dos enjaulados.
Paga R$ 2,90 para ir e a mesma quantia para voltar, todos os dias. Porque essa,
talvez, seja sua única opção. Lá está
você, após um dia cansativo de trabalho e estudo, aliás, você nem sabe se é
você. Pega em uma mão que não sabe se é a sua, carrega uma bolsa que não tem
certeza ser familiar e pensa coisas que geralmente não pensaria. Ás vezes, você
consegue sentar: Que alegria! Nem tanto. Dizem que o inverno é terrível, as
pessoas evitam água por causa do frio, mas e no verão? Qual o motivo do fartum?
Os odores se tornam
insuportáveis, mesmo com as janelas abertas. “Meu que cara fedorento”, reclama
Pedro Barbosa, de 16 anos. Ele diz que todos os dias usa o transporte coletivo
para ir estudar e que suporta os empurrões e xingamentos. “O difícil mesmo é
suportar o cheiro do pessoal, principalmente no verão. Parece que essa galera
não toma banho”, diz o garoto.
Os pequenos geralmente sofrem mais com isso devido à sua cabeça ficar
abaixo de um membro que contribui para o sofrimento: (a axila). Contudo, seja
pequeno ou grande, ainda há aqueles que levantam para aquelas que carregam seus
filhotes ou que já têm uma idade avançada. Na selva de todos os dias, as leis
raramente são respeitadas. Até que alguém decide assumir o controle e obrigar
os “macacos” a pagarem mais bananas se quiserem migrar de galho em galho. Lá está ele, no
topo da árvore mais alta, na parte mais alta da floresta, o “macaco chefe”.
Ele não tem uma espécie definida, mas diz ser de todos e ainda afirma que
tudo o que faz é para o bem de todas as espécies. Uma coisa os lêmures têm em
comum com os gorilas, ambos só ganham bananas maçãs, daquelas menores, enquanto
o chefe do bando exige seu pagamento com bananas canela. Para alguém que é de
todos, está exigindo demais. O chefe do bando jamais pulou de galho em galho,
ele tem um cipó só dele que é mantido com dinheiro do povo, “ops”, com as
bananas do bando.
Bem, o chefe dos macacos fica o
dia inteiro sentado em uma poltrona de couro, em uma sala com ar condicionado,
dizendo sim ou não para tudo, enquanto lêmures e gorilas colhem suas bananas de
cada dia. O chefe parece ter suas próprias preocupações e não deve, como diz o
adolescente Pedro, se preocupar com a hora que o ônibus vai passar, se vai ter
a oportunidade de sentar-se após um dia cansativo de trabalho e estudos, ou se vai
continuar um macaco gordo para todo o sempre, tendo que andar pendurado de
galho em galho. Ele
não se preocupa se as bananas irão chegar para alimentar seus filhotes, pagar
as contas da árvore, a escola das crianças, os uniformes ou os materiais. Ele
nem tem mais crianças, seus “macaquinhos” já são homens formados que têm todo o
apoio do pai.
O chefe do bando não se preocupa com a violência na selva, ele tem
macacos grandes que o defendem. Ele nem precisa se esforçar para pensar, porque
também tem alguém que faz isso para ele. E lá no “zarco”, como chama Pedro ao
ônibus: “Todos os dias é essa luta”, diz o garoto. O engraçado é que enquanto o
chefe do bando se refresca em um dia ensolarado, os lêmures e gorilas não só
disputam lugar, eles chegam a brigar dentro das jaulas, empurram os anciões, machucam-nos,
se ofendem verbalmente, falam sobre coisas obscenas sem se importar se há
crianças no recinto. Reclamam da vida, mas quando o negócio é exigir seus
direitos de cidadão, eles tremem na base, sentem preguiça, dizem: “Ah, não vai
adiantar”.
Pedro Barbosa acha que adianta: “Se todos os passageiros realmente se
revoltassem contra essas decisões de aumento de passagem, nós não teríamos que
pagar tão caro. A união faz a força”, diz o adolescente empolgado. Pedro acha
que as pessoas se acomodam com as decisões tomadas, não só com relação ao aumento
das tarifas de transporte público, mas todas as outras decisões governamentais.
“Vejo os meus amigos, todos falam, mas na hora de defender os direitos deles,
não fazem nada, ficam com medo de dar à cara a tapa”. Pedro Barbosa participou
do manifesto contra o aumento da passagem. “Participei e participo de novo e
enquanto a população não se tocar que podem estar sendo enganados, ou não se
importar com isso, cada vez seremos mais pobres”, diz.
Segundo a
opinião de Pedro, a selva do transporte coletivo funciona da seguinte maneira:
Quando um começa a reclamar o outro escuta e se cala, quando um decide
enfrentar o chefe do bando, os outros recuam com medo da punição. Por esta razão, agora, todos os macacos
precisam aguentar o aumento da cobrança das bananas que em apenas um ano
aumentou três vezes. Precisam aguentar macacos-prego maluquinhos que cantam
reps dentro das jaulas quando você volta cansado do trabalho, precisam suportar
as fragrâncias alheias de lêmures, gorilas, micos-leão-dourados, babuínos e
todas as outras espécies.
Aguentar babuínos raivosos que discutem com o motorista quando este passa
da parada. E os micos-leão-dourados vendendo suas bananas ou pedindo bananas
dentro das jaulas, para assim sobreviver. Sem falar nos macacos-prego que não
param de cantarolar e bater em seu galho, te cutucar quando você só quer
cochilar.
A lei da selva no transporte
coletivo é clara: ninguém nasce querendo ser apenas um macaco, mas quando isso
ocorre, é preciso saber lidar com a situação e enfrentar as dificuldades,
exigir seus direitos. Bem, uma coisa ficou esclarecida: Agora sabemos por que
tantos macacos querem ser um macaco chefe.
Texto de 2009.
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Manifesto contra o aumento da passagem 2013 |