Silenciosa, pacata e um tanto acolhedora. Essas
três palavras podem ajudar a definir o município de Araquari. Ali, onde as águas
do rio Parati movimentam-se na mais perfeita calmaria. Onde os pássaros entoam
seus cantos ao amanhecer e retornam a cantarolar no cair da tarde. Em seus
barrancos libélulas sobrevoam fazendo suas danças, despreocupadas com o horário
e a cada esquina, alguém sempre está disposto a te cumprimentar. Um bom dia da
dona Joana, um olá do seu Paulo, um até logo do seu Pedro e um entusiasmado “oi”
do Gustavinho.
É nessa cidade que trabalha Maria Cristine Lanconi. Ela é uma mulher do mar, uma pescadora que acorda todos os dias de pesca às três horas da manhã, toma seu café, prepara-se e parte, junto de duas amigas com seu companheiro de ondas, que ora é um barco, ora uma bateira, em busca da matéria prima de seu trabalho: peixes.
O rio Parati é um dos destinos, mas as aventureiras preferem ir mais longe buscar uma quantidade maior para venda. “Muitas vezes a gente pesca na Baia da Babitonga, próximo da Ilha do Mel ou da Ilha do Barco”, conta Cristine. Quando saem para pescar fora do município trazem com elas de 25 a 30 quilos de peixe.
Maria Cristine é natural do Paraná e araquariense de coração, atua como pescadora profissional há 11 anos. Já trabalhou como agente da saúde e formada em pedagogia, também lecionou por alguns anos, mas encontrou na pescaria mais que um trabalho: “Para mim é uma terapia poder fazer o que eu gosto, estar no mar e ainda ganhar com o serviço que faço”, diz.
E o apreço pela profissão é tanto que ela nem se importa com as tempestades. “Já peguei alguns temporais, mas geralmente quando estou voltando. A gente que trabalha com pesca sempre sabe quando o tempo vai mudar e já se prepara”, comenta. Cristine tem por guia a própria natureza. “Se a água está turva, se o vento mudou, são sempre sinais que o tempo também vai mudar”.
Há 25 anos, a pescadora guerreira, também segue sua vida em luta contra o câncer do tipo melanoma maligno. E viu na pescaria uma forma de enfrentar a doença. É ali, sobre o barco, no quase silêncio do mar, na companhia das duas amigas que ela se diverte, que ela se distrai e ganha o sustento de sua casa. É com a delicadeza ao movimentar a vara de pesca, com o cálculo preciso de onde a linha deve cair ou mesmo com o movimento quase “tecido” ao lançar a rede ao mar que ela, a mulher, a trabalhadora se satisfaz.
Divorciada, mãe de dois filhos, a pescadora sai em busca de bons produtos. Os peixes de sua lista são parati, tainha, tanhota e mesmo, o robalo que ela sabe bem onde e quando pescar. “Quando está aquela chuvinha fina é bom de estar no mar, é aí que a gente consegue pescar robalo”.
Cheia de técnicas, conhecimento e os truques de pesca, Cristine usa de isca o camarão, a ostra ou o mexilhão e, algumas vezes, prefere pescar de rede, sempre obedecendo as leis da pesca. Da família só ela é pescadora e na hora de seguir para o mar, os filhos preferem apostar no conhecimento da mãe e esperar o seu retorno.
Além de vender o peixe fresco, Cristine tira a maior parte de sua renda ao oferecer um produto diferenciado: o peixe defumado. O trabalho é maior, mais demorado, mas ela garante que vale a pena. “Eu já tenho meus clientes definidos e geralmente faço por encomenda. V endo muito para restaurantes e clubes”.
Cristine informa que o processo para defumar um peixe leva de 48 a 56 horas. “Tudo depende da espécie do peixe e das ervas que são usadas no tempero”. O valor cobrado pelo peixe defumado é de R$ 25 à R$35 reais o quilo. “O valor também depende da espécie e dos temperos encomendados”. Hoje ela tem sua própria horta e um defumador, onde faz todo o serviço, em sua própria casa. A pescadora não nega trabalho e segue sua rotina sempre com um grande sorriso e alegria por mais um dia poder estar no mar.
Cristine faz parte dos 120 pescadores registrados pela Secretaria da Agricultura de Araquari que atuam profissionalmente. É uma das poucas mulheres na função e sente muito orgulho em assim ser: “Estar no mar é o que eu escolhi”.
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